Boletim nº6 – terceiro quadrimestre de 2015

A IMPRENSA E A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO ROUSSEFF

A proporção de formadores de opinião que apoiou publicamente a política externa do governo de Dilma Rousseff no, terceiro quadrimestre, foi a mais baixa de 2015. O percentual dos que o fizeram variou segundo os diferentes veículos.

Nosso termômetro
CEBRAP indica:

%

de artigos favoráveis
à Política Externa.

Confira abaixo a posição frente à política externa de articulistas e editorialistas de diferentes jornais:

  • Favoráveis 4.3% 4.3%
  • Neutros 26.1% 26.1%
  • Contrários 69.6% 69.6%

por Meilian Higa Lee

Confira a análise do veículo do jornal O Globo

Neste último quadrimestre de 2015, O Globo reiterou sua posição crítica em relação à política externa brasileira. Contudo, o foco do jornal foi a política doméstica resultando em somente 23 artigos de opinião que versavam sobre assuntos exteriores do país, dentre os quais, há apenas sete editoriais. Os temas em destaque foram: a instabilidade política na Venezuela e os efeitos da Parceria Transpacífico para o Brasil. A crise política na Venezuela é sempre lembrada e acompanhada pelo jornal. Lamenta-se o fato de o Brasil, com seu peso regional, ter se mantido omisso com relação ao conflito interno venezuelano. O tema ressurge com a vitória do partido de oposição ao governo Kirchner na Argentina, que faz mudar a balança de alianças dos governos adeptos do bolivarianismo, segundo o jornal. O Brasil viu-se pressionado pelo novo governo argentino a rever sua posição sobre a Venezuela. Outra reviravolta foi a derrota de Maduro nas urnas para o grupo de oposição. Diante de tais acontecimentos, os articulistas esperam que o Itamaraty retome a coerência da tradição diplomática brasileira. O acordo firmado entre os países do pacífico chamou a atenção dos articulistas pela contraposição entre o dinamismo comercial no mundo em relação ao imobilismo do Brasil. Critica-se a aposta brasileira de negociar em fóruns multilaterais – a excessiva importância dada à rodada Doha da OMC –, e na estratégia Sul-Sul, que teria atrelado o país ao estagnado Mercosul e ao ilusório futuro dos BRICS. De acordo com os artigos, a Parceria Transpacífico trará prejuízos comerciais e aprofundará o isolamento do Brasil nos mercados globais. Outros temas tratados com menos destaque estão relacionados ao protagonismo brasileiro. Os articulistas defendem o papel de liderança do país na questão da política de drogas na Assembleia Geral das Nações Unidas; na Agenda Pós-2015 e no Acordo Climático, com metas ambiciosas para acabar com a extrema pobreza e o desmatamento. Há também a crítica à partidarização da política externa, manifesta na crise diplomática com Israel resultante da decisão do Itamaraty de não dar o agrément ao embaixador israelense. Os artigos expressam a expectativa na volta do prestígio do Itamaraty, como forma de eliminar a influência ideológica na política externa. A diplomacia presidencial foi pouco mencionada, mas sempre de uma perspectiva crítica. Há bastante apoio ao aumento do protagonismo do país em temas globais e, consequentemente, a uma atuação de tipo universalista.

  • Favoráveis 4.7% 4.7%
  • Neutros 16.3% 16.3%
  • Contrários 79.1% 79.1%

por Camila Schipper

Confira a análise do veículo do jornal Estadão

O Estado de S. Paulo manteve sua tradicional postura crítica à política externa do Governo Dilma, durante o 3º quadrimestre de 2015, em 34 dos 43 artigos e editoriais analisados. Os temas de maior destaque são a política comercial externa do país, as relações com Venezuela e Argentina e a Conferência do Clima em Paris (COP-21). A opinião negativa sobre as relações sul-sul em 14 artigos e editoriais, bem como a rejeição da diplomacia presidencial do atual governo refletem a ênfase do jornal na necessidade de mudar a forma de condução da política externa brasileira. A política comercial externa do país é o tema mais recorrente e reitera a posição desfavorável à ação externa do governo. A política comercial brasileira é abordada no contexto de uma visão favorável às relações norte-sul, principalmente por meio de negociações bilaterais e plurilaterais, seguindo a tendência mundial e como parte das medidas de recuperação da economia nacional. Artigos e editoriais enfatizam a necessidade de reformas em organismos internacionais – OMC e MERCOSUL. Contrapondo-se ao que denominam “ideologização” da política externa brasileira. Dos 11 artigos e editoriais publicados, 7 são contrários à diplomacia presidencial. Com as eleições para o Legislativo na Venezuela, alguns artigos e editoriais defenderam o protagonismo do Brasil na América do Sul em termos da defesa da democracia e da mudança da atitude da diplomacia presidencial com relação ao governo da Venezuela. Na região, as relações do Brasil com a Argentina também tiveram maior destaque com a eleição de Macri à presidência argentina, o que foi visto como positivo para o incremento das relações comerciais entre os dois países e para as negociações comerciais do MERCOSUL. O protagonismo internacional do Brasil foi defendido nos 6 artigos e editoriais sobre a Conferencia do Clima em Paris (COP-21), enfatizando a defesa das negociações multilaterais e a necessidade de políticas internas que garantam a projeção internacional do país.

  • Favoráveis 25% 25%
  • Neutros 18.8% 18.8%
  • Contrários 56.3% 56.3%

por Camila Schipper

Confira a análise do veículo do valor econômico

O Jornal Valor Econômico foi preponderantemente desfavorável à política externa do governo Dilma, no 3º quadrimestre de 2015. Dentre os 16 editoriais e artigos, 8 tratam da política comercial externa e são contrários à forma como é conduzida atualmente. Neste quadrimestre, artigos e editoriais enfatizaram o papel o que o Brasil deve exercer em diferentes âmbitos, bem como a necessidade de reforma no Mercosul. Defenderam uma política externa mais voltada aos interesses de desenvolvimento econômico do país, ao tratar de temas comerciais sem, contudo, ignorar o papel do país nas negociações multilaterais em questões climáticas e o papel de liderança regional em defesa à democracia na Venezuela. Os artigos deram destaque à Conferencia do Clima em Paris, enfatizando a necessidade de maior protagonismo brasileiro. Os 4 artigos e editoriais sobre a Conferencia do Clima em Paris defenderam a liderança do Brasil nas negociações multilaterais para a promoção de acordos efetivos. No comércio internacional, a posição contrária à política externa atual manifestou-se na defesa das negociações comerciais em âmbito plurilateral, como o Acordo Transpacífico. Ao tratar das relações do Brasil com a Venezuela, os articulistas defenderam simultaneamente maior protagonismo brasileiro e o abandono de uma política “ideologizada” de apoio ao governo de Maduro.

  • Favoráveis 20% 20%
  • Neutros 41.4% 41.4%
  • Contrários 38.6% 38.6%

por Dan Novachi

Confira a análise do veículo do jornal O Globo

Ao longo do terceiro quadrimestre de 2015, a Folha de S. Paulo publicou 70 textos, entre editoriais e artigos de opinião, dos quais 27 foram contrários à atual política externa brasileira, 14 se mostraram favoráveis a ela e 29 neutros. Dentre os principais temas discutidos durante o período destacamos os seguintes: as metas e a participação do Brasil na Conferência de Paris sobre mudança climática; as respostas e atitudes do Brasil relativas à crise na Venezuela; a necessidade da reinserção do Brasil nas cadeias globais, sobretudo por meio de engajamento em acordos plurilaterais; e a mudança da relação bilateral Brasil-Argentina com a eleição de Macri. As dificuldades econômicas do Brasil motivaram fortes críticas por parte dos articulistas e editoriais do jornal. Muitos afirmam que o país está isolado e que deve urgentemente buscar novos parceiros e acordos capazes de engajar o país na dinâmica global. A Aliança do Pacífico, por exemplo, apareceu recorrentemente nos artigos e editoriais como um meio de o Brasil melhorar sua inserção internacional – não propriamente entrando na aliança, afinal o Brasil não está no Pacífico, mas sabendo tirar proveito dessa elevada interação comercial que se dá tão próxima de suas fronteiras. A diplomacia presidencial foi, de maneira geral, mal avaliada e considerada insuficiente – exemplos neste sentido vão desde omissão face à crise na Venezuela até cancelamentos de visitas a países como Japão, Índia e Vietnã. A relação Sul-sul foi bastante incentivada pelos articulistas, sobretudo no que se refere às relações com a Argentina de Macri e ao papel importante que o Brasil tem a desempenhar na solução da crise venezuelana. As opiniões expressas no jornal durante o 3º quadrimestre foram mais favoráveis ao universalismo, em detrimento do regionalismo. No que se refere ao tema das negociações internacionais, o bilateralismo foi a opção que mais recebeu menções positivas, seguida pelo plurilateralismo e pelo multilateralismo empatados. Cabe dizer que a COP 21 teve grande peso sobre essa distribuição de preferências. Os principais temas de negociação tratados nos artigo e editoriais envolvendo o Brasil foram respectivamente comercial, climático e tecnológico.

Resumo dos assuntos tratados nos artigos

A imprensa de opinião e as grandes linhas de ação internacional do Brasil

Os artigos, editoriais e entrevistas de especialistas, embora muito críticos com relação à condução política exterior, parecem concordar o que tem sido suas grandes linhas de atuação. A abertura para o exterior, que chamamos de globalismo; a busca da diversificação das relações com países situados em diversas partes do mundo, que denominamos universalismo; a opção pelo multilateralismo’a presença ativa na região por meio do MERCOSUL e da UNASUL; e relações mais próximas com os Estados Unidos são opções de longo curso da política externa, que contam com apoio significativo entre os principais órgãos de imprensa e seus colaboradores.

Orientações Gerais da Política Externa – Preferências da Imprensa

  • Nacionalismo (0) 0% 0%
  • Globalismo (109) 100% 100%
  • Regionalismo (27) 20.77% 20.77%
  • Universalismo (103) 79.23% 79.23%
  • Unilateralismo (2) 1.75% 1.75%
  • Multilateralismo (32) 28.07% 28.07%
  • Unasul – Favorável (2) 28.57% 28.57%
  • Unsasul – Contrário (5) 71.43% 71.43%
  • Mercosul – Favorável (7) 43.75% 43.75%
  • Mercosul – Contrário (9) 56.25% 56.25%
  • EUA – Favorável (14) 100% 100%
  • EUA – Contrário (0) 0% 0%

Sobre o projeto

Hoje, a imprensa escrita é, a um só tempo, arena e protagonista de um debate informado sobre a política exterior do país. Por esta razão, o CEBRAP decidiu acompanhar o que pensam e dizem sobre o tema os principais órgãos da imprensa escrita, como protagonistas, em seus editoriais, e como meio, nos artigos assinados por seus colaboradores permanentes e eventuais.

Leia Também