É com profunda tristeza e consternação que o Afro-Cebrap lamenta o assassinato político da Líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, município de Simões Filho (BA), Yalorixá, ‘Sambadeira’, coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), onde atuou na criação do Coletivo de Educação, e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial do município, que lhe concedeu o título de Cidadã de Simões Filho.
A comunidade quilombola Pitanga dos Palmares, que tem origem no século XIX, foi certificada em 2004, e é composta por quase 300 famílias, que vivem em um território de menos de 900 ha, vive principalmente da pesca, da agricultura familiar, do artesanato de “piaçava”, da farinha para vatapá, frutas e verduras.
Em julho passado, em encontro da presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, com lideranças quilombolas baianas, Mãe Bernadete denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola, como parte da sua atuação na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, alvejado depois de deixar o filho na escola, em 2017.
Ela, seu filho e sua comunidade sofriam e sofrem os impactos cumulativos do Polo Industrial de Camaçari (anos 1970) e, mais recentemente, pela especulação imobiliária industrial, por grandes empreendimentos públicos e privados, como o Complexo Penitenciário Simões Filho (2007), a rodovia BA–093 (2009), a Variante Ferroviária de Camaçari (2009) e, até mesmo as ameaças de instalação de um aterro sanitário no território da comunidade – signo maior do “racismo ambiental”.
Mãe Bernadete foi brutalmente assassinada a tiros na noite do dia 17 de agosto dentro do espaço que era seu terreiro de candomblé e sede da sua associação quilombola.
O Afro-Cebrap se solidariza com os familiares, amigos e com toda a comunidade do Quilombo Pitanga dos Palmares e cobra justiça ao Estado brasileiro.
(Imagem: Divulgação/Conaq)