A quarta mesa das Jornadas Sesc Cebrap: Pesquisa e Futuro, mais um evento comemorativo da série #Cebrap50anos, aconteceu na quinta, 12 de agosto. Com mediação do cientista político Rúrion Melo, o debate tratou de “Raça, gênero, sexualidade e reprodução” e trouxe a socióloga e professora da FFLCH-USP Márcia Lima e a antropóloga Sandra Garcia, ambas pesquisadoras do Cebrap. O evento aconteceu no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.
Márcia Lima, que comandará o mais novo núcleo de pesquisas do Cebrap (o AFRO), foi a primeira a se apresentar. “A marca fundamental do racismo é a desumanização. A marca fundamental do sexismo é a destituição de autonomia. Racismo e sexismo são, portanto, a naturalização das desigualdades. (…) Natureza e cultura ainda são uma dualidade forte na organização de racismo, sexismo e homofobia. Neste último caso, como uma transgressão da natureza”. E então trouxe Angela Davis e seu fundamental ‘Mulheres, Raça e Classe’ para o debate, pois “lembrando Angela Davis, durante a escravidão as mulheres negras estavam presentes no mundo produtivo – apesar d’eu não concordar com essa leitura marxista da escravidão – e presentes no mundo reprodutivo não familiar (reprodução como processo produtivo). Já as mulheres brancas estavam ausentes no mundo produtivo e presentes no mundo reprodutivo familiar. (…) A classe é, portanto, uma consequência de um arranjo de raça e gênero”.
A partir daí, Márcia Lima falou de uma pesquisa que vem desenvolvendo sobre emprego doméstico no Brasil. “De 2002 a 2012 houve uma redução de desigualdade no emprego doméstico no Brasil, mas conseguimos ver que a desigualdade racial se manteve dentro do emprego doméstico”, afirmou. Um dos frutos desta pesquisa foi o artigo recentemente publicado na revista Tempo Social escrito em parceria com Ian Prates e intitulado “Emprego doméstico e mudança social – Reprodução e heterogeneidade na base da estrutura ocupacional brasileira“.
Então veio Sandra Garcia e logo fez uma distinção entre sua abordagem e a de Márcia Lima. “A Márcia falou de mercado produtivo. Eu vou falar de mercado reprodutivo, mais precisamente do mercado de reprodução assistida. (…) Vou falar aqui de alguns resultados de uma pesquisa que publiquei quatro anos atrás intitulada ‘Reprodução assistida no Brasil – Aspectos sociodemográficos e desafios para as políticas públicas'”, disse. “As pessoas não gostam que falem de mercado, mas é, realmente, um mercado de bebês. E falo isso sem julgamento de valor. É um fato. (…) A grande maioria dos serviços de reprodução assistida no Brasil são privados – preços variando de 15 mil a 25 mil reais por ciclo – e a maioria são no Sudeste. (…) Houve também, nos últimos anos, um grande crescimento de importação de sêmen para o Brasil, principalmente vindo dos Estados Unidos, que é o maior mercado do mundo nesse quesito. 91% desse sêmen é de ascendência caucasiana. (…) Isso acontece dessa maneira no Brasil, mas em outras partes do mundo existem outras desigualdades nesse mercado reprodutivo. Estamos caminhando para uma nova eugenia global?”, completou Sandra Garcia deixando questionamento no ar. Ouça abaixo a íntegra, em áudio, do debate.
As Jornadas Sesc Cebrap seguem nos dias 19 e 26 de setembro. Confira a programação completa AQUI e leia também um pouco do que aconteceu na primeira mesa, na segunda mesa e na terceira mesa.