Projeto GlobalCar: pesquisa do Núcleo de Etnografias Urbanas do Cebrap investiga economias informais de veículos

O Cebrap apresenta aqui a quarta de uma série de entrevistas gravadas em vídeo com pesquisadores dos diversos núcleos do Centro. O objetivo é que eles possam destacar suas pesquisas e apresentá-las à comunidade de forma bem direta e objetiva.

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O Núcleo de Etnografias Urbanas do Cebrap está desenvolvendo o projeto GlobalCar, uma investigação aprofundada sobre as economias informais de veículos, com financiamento da FAPESP e da Associação Nacional de Pesquisa da França. O projeto é interdisciplinar, reunindo sociólogos, antropólogos, geógrafos e outros pesquisadores de diversas partes do mundo, explorando as complexas cadeias de valor que envolvem veículos roubados, desmanches e mercados de reposição.

O projeto teve início com uma pesquisa, coordenada pelo pesquisador Gabriel Feltran, realizada entre 2015 e 2020, que resultou no livro “Stolen Cars”. O estudo revelou diversas trajetórias de veículos roubados: desde desmanches e revenda de peças até o tráfico de drogas e armas na América Latina. O objetivo era compreender as implicações desses mercados ilegais sobre a violência urbana e a desigualdade social.

O projeto GlobalCar adota uma abordagem multimétodos, combinando técnicas qualitativas e quantitativas para analisar como essas economias impactam a vida urbana. “Estamos lidando com cadeias produtivas extremamente complexas, o que nos impulsiona a buscar soluções criativas do ponto de vista metodológico, teórico e analítico”, comenta Bianca Freire-Medeiros, pesquisadora do Cebrap.

Além do Brasil, equipes estão ativas em vários países, incluindo Estados Unidos, Costa do Marfim, Gana, Benin, e na região de Dubai. Segundo os pesquisadores, essa abordagem transnacional permite entender como os mercados ilegais e formais de veículos se interconectam globalmente.

Para Feltran, os impactos esperados do projeto são vastos. Além de contribuir academicamente para o conhecimento sobre mercados ilegais, o projeto tem um potencial significativo para informar políticas públicas. “Nossa pesquisa pode ser usada por formuladores de políticas para regular esses mercados de forma a minimizar desigualdades e violência”, explica.

Exemplos concretos incluem colaborações com o Ministério da Segurança do Uruguai e com indústrias de automóveis interessadas em entender melhor as cadeias de valor ilegais. “A pesquisa está fornecendo insights valiosos para seguradoras, leilões e desmanches”, acrescenta Feltran.

Outro aspecto importante do projeto é a formação de novos pesquisadores. Desde estudantes de iniciação científica até pós-doutorandos, muitos têm a oportunidade de se envolver em atividades de pesquisa colaborativa em um contexto internacional. “Essa experiência é enriquecedora não só para os estudantes, mas também para nós, pesquisadores mais experientes”, destaca Bianca.

O projeto já produziu resultados significativos, publicados na revista “Tempo Social” da USP, sob a coordenação de Bianca Freire-Medeiros, Luana Motta, Deborah Fromm. Os artigos abordam temas variados, como o impacto dos mercados de veículos na América Latina, África Ocidental e Oriente Médio. Acesse aqui. 

O GlobalCar ainda tem muitos desafios e descobertas pela frente. A inclusão de novas áreas de estudo, como Chicago e Dubai, e a continuidade das investigações em locais como o Porto de Santos, prometem expandir ainda mais o entendimento dessas economias globais de veículos. “Estamos apenas começando a compreender as complexas interações entre legalidade e ilegalidade, formalidade e informalidade, que moldam nossas cidades contemporâneas”, conclui Medeiros.

Confira a equipe completa do projeto: https://www.prodig.cnrs.fr/global-cars/

Ouça também o episódio do podcast Urbanidades a respeito do GlobalCar: https://open.spotify.com/episode/5fVNB49eq1uuQUFtkH246g

Assista à entrevista completa com Gabriel Feltran e Bianca Freire-Medeiros:

Sobre o Núcleo

O Núcleo de Etnografias Urbanas do Cebrap reúne pesquisadores interessados em temáticas urbanas, focando tradicionalmente em conflitos urbanos. Com uma abordagem qualitativa robusta, o Núcleo investiga questões como desigualdade e pobreza, mudança religiosa, políticas públicas, violência urbana e o consumo e tráfico de drogas psicoativas. Utilizando a etnografia como metodologia de referência, o Núcleo privilegia a investigação na escala dos fenômenos sociais, ao mesmo tempo que articula outras metodologias, tanto quantitativas quanto qualitativas, para enriquecer suas análises.

Bianca Freire-Medeiros é professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e parte dos programas de pós-graduação em Sociologia da FFLS-USP e em Turismo da EACH. Medeiros lidera o grupo de pesquisa MTTM (Mobilidades, Teorias, Temas e Métodos) e o projeto UrbanData Brasil, que compila dados bibliográficos sobre o Brasil urbano.

Gabriel Feltran é diretor de pesquisas no Centre National de La Recherche Scientifique (CNRS) na França e professor no Centro de Estudos Europeus e Política Comparada da Sciences Po, além de ser pesquisador do Núcleo de Etnografias Urbanas do Cebrap, com uma linha de pesquisa focada na sociologia do crime e da violência.

 

 

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