Com o objetivo de compreender os efeitos sociais da pandemia do COVID-19 na vida de famílias em situação de vulnerabilidade social em cidades do Brasil, equipes de pesquisadoras de três instituições de ensino do país vêm realizando estudo de perfil quali e quantitativo. A pesquisa “Efeitos das políticas de isolamento e de distância social relativas ao Covid-19 na vida de famílias vulneráveis brasileiras”, coordenada por Camila Pierobon (Cebrap), Paula Lacerda (UERJ) e Taniele Rui (Unicamp), é realizada nas cidades de Campinas (SP), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Altamira (PA). A mesma pesquisa ocorre também em outros países (Índia, China, Coréia do Sul, Haiti e Chile), sob a coordenação geral de Clara Han e Veena Das, professoras na Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e conta com financiamento da National Science Foundation (NSF). A pesquisa tem perfil antropológico se iniciou em junho de 2020 com previsão de finalização em maio de 2021.
Tendo por foco de observação o acompanhamento das dinâmicas familiares, e portanto as relações entre seus membros, a pesquisa trabalha com um formulário de questões comum a todos os países, em que são abordados temas como a entrada e saída de dinheiro e alimento, situações de adoecimento (relacionadas ou não ao COVID-19), os contatos sociais realizados e quais as fontes de informação sobre a pandemia. Nas entrevistas qualitativas, são abordadas temáticas relacionadas à realidade brasileira e às cidades onde a pesquisa é realizada, como a relação entre a pandemia e a violência urbana, o fluxo de pessoas entre o meio rural e o urbano, a precariedade das habitações, o estigma em relação aos casos confirmados nas vizinhanças e as condições de acesso a direitos.
Para as pesquisadoras, a situação de vulnerabilidade social que já existia antes da pandemia foi agravada desde a chegada do COVID-19 no Brasil. Tendo em vista que as necessárias medidas de isolamento e de distanciamento social produziram efeitos na vida das famílias que não são plenamente conhecidos, o esforço do estudo é precisamente o de compreender como as políticas relacionadas ao COVID-19 (entre as quais as medidas de distanciamento e isolamento social, mas também o auxílio emergencial e outras garantias no plano dos direitos) afetam a vida e o cotidiano de famílias vulneráveis em quatro diferentes cidades do Brasil. A perspectiva comparativa é central para entender o impacto da pandemia à luz de diferentes redes de suporte e apoio, em contexto de extrema desigualdade social. A expectativa é que a pesquisa possa informar políticas públicas de garantia dos direitos sociais das famílias com esse perfil no Brasil.