A IMPRENSA E A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO ROUSSEFF
Apenas a minoria de formadores de opinião apoiou publicamente a política externa do governo de Dilma Rousseff no segundo quadrimestre do ano. Mas o percentual dos que o fizeram variou segundo os diferentes veículos.
Nosso termômetro
CEBRAP indica:
%
de artigos favoráveis
à Política Externa.
Confira abaixo a posição frente à política externa de articulistas e editorialistas de diferentes jornais:
Confira a análise do veículo do jornal O Globo
Dos 46 artigos de opinião e editoriais publicados no jornal O Globo, 33 artigos foram desfavoráveis à atual política externa brasileira. Neste quadrimestre, diversos assuntos foram abordados: a omissão da diplomacia brasileira frente à intervenção russa na Ucrânia, o apoio do Brasil à Argentina nos fóruns internacionais, a necessidade de estreitar as relações com os Estados Unidos, o atrelamento do Brasil ao Mercosul e a posição assumida pelo país na guerra entre Israel e o Hamas. Esperava-se da diplomacia brasileira, uma declaração em defesa do princípio da não-intervenção na crise da Ucrânia.
Os articulistas do jornal criticaram a abstenção do governo brasileiro, relembrando que a mesma postura fora adotada anteriormente nos casos da crise da Venezuela e da guerra civil na Síria. O Brasil teria utilizado dois pesos e duas medidas ao condenar unicamente Israel e omitir-se quanto às ações do Hamas. Atribui-se o fato à diplomacia companheira que estaria norteando erroneamente o Itamaraty. O auxílio prestado à Argentina nas ações movidas na ONU e OEA, assim como, a participação brasileira no heterogêneo grupo dos BRICS e a manutenção do foco econômico no Mercosul, demonstrariam que há uma ideologização da política externa colocando os interesses nacionais em segundo plano. Em geral, há críticas quanto à atenção preferencial aos países emergentes e à visão antiamericanista que compartilham.
Tal prática aumenta a dificuldade de o Brasil reforçar as estratégicas relações com os EUA. Os articulistas e editorialistas criticam a orientação regionalista que prioriza o Mercosul gerando barreiras à realização de novos acordos comerciais bilaterais, principalmente com os países desenvolvidos. Deste modo, o Brasil estaria se isolando no cenário internacional, tanto politicamente como economicamente. Defende-se a recuperação do prestígio do Ministério das Relações Exteriores e o fim de influências ideológicas nas decisões da política externa.
Confira a análise do veículo do jornal Estadão
A opinião expressa sobre política externa, no jornal Estado de São Paulo em 38 artigos e editoriais, foi predominantemente crítica, durante o 2º quadrimestre de 2014. Neste período, os principais temas considerados disseram respeito às políticas comerciais do país, nas relações do país com Argentina, com Membros dos BRICS e no âmbito do Mercosul.
Enfatiza-se a defesa dos princípios do universalismo e multilateralismo, em detrimento da orientação sul-sul, propondo-se mudança na forma como é conduzida a política externa na América Latina. Nos editoriais, tem destaque a crítica da Política Externa brasileira em relação à Argentina, considerando a importância de seu mercado para o Brasil, a crise econômica do país vizinho e as negociações comerciais no âmbito do Mercosul. No âmbito da América Latina, também é forte a crítica à forma como são conduzidas as relações do país com a Venezuela e Bolívia. Segundo editorialistas e articulistas, tais questões ideológicas e partidárias teriam precedência sobre os “interesses nacionais”, nas relações do Brasil com aqueles países.
Devido à recente reunião dos BRICS e a reunião dos membros do Mercosul, realizadas no Brasil, a questão comercial recebeu maior atenção, com ênfase na defesa da celebração de acordos comerciais e plurilaterais e maior aproximação aos EUA e União Europeia. No contexto de desaquecimento da economia brasileira e da necessidade de expandir as relações comerciais brasileiras, editoriais e articulistas defenderam uma diversificação dos parceiros comerciais brasileiros, com maior aproximação aos países desenvolvidos, bem como uma mudança na condução da política externa na América Latina, que se considera “ideologizada”.
Confira a análise do veículo do valor econômico
A opinião sobre política externa manifestada, no jornal Valor Econômico em 22 artigos e editoriais, foi, em sua maioria, favorável às iniciativas do governo ou neutra, durante o 2º quadrimestre de 2014.
Neste período, os principais temas considerados remetem ao comércio internacional, notadamente a necessidade de “internacionalização” da economia brasileira com a defesa do multilateralismo, do universalismo e da celebração de acordos comerciais bilaterais e plurilaterais. Neste contexto, as relações com os EUA são vistas de forma favorável, como uma estratégia para reforçar o comércio do país. Houve também exortação à maior atuação do país na África e à celebração de acordo comercial com a Aliança do Pacífico.
Para articulistas e editoriais, o reforço da política industrial nacional passa pela diversificação dos parceiros comerciais do país, a defesa pelo aprofundamento nas relações com os países membros do BRICS e de mudança na forma como é conduzida a política externa em relação à Venezuela e à Argentina. Nestes últimos casos, há críticas à política sul-sul e à influência de “questões ideológicas” norteadoras da política externa do governo Dilma. No período considerado, o jornal Valor Econômico defendeu a expansão e aprofundamento das relações do Brasil com países tanto da América Latina como do Norte, em consonância aos interesses do país.
Confira a análise do veículo do jornal O Globo
O jornal Folha de São Paulo publicou, no segundo quadrimestre do ano, 66 artigos de opinião sobre a política externa brasileira, número equilibrado entre posições neutras (25 artigos) e desfavoráveis (30 artigos).
Dentre os temas predominantes, tivemos: o futuro da relação Brasil – Estados Unidos; a necessidade de maior abertura econômica; a relação do país com o Mercosul, bem como projeções sobre o futuro do bloco; propostas de política externa possíveis, frente à disputa eleitoral; relação Brasil-China; ausência de posição do país diante das crises internacionais na Ucrânia, Síria; análises e projeções sobre o futuro dos BRICS, e de seu banco e, finalmente, as críticas aos bombardeios israelenses na Palestina.
Os artigos de opinião, de uma maneira geral, discutiram e em alguns casos se dividiram em relação ao que foi diagnosticado como certa paralisia diplomática e à adoção de posturas mais tímidas do que as assumidas pelo governo anterior; o silêncio do Itamaraty nos casos do separatismo ucraniano e a guerra síria; , assim como os bombardeios de Gaza pelos israelenses. sempre com questionamentos sobre a real posição do país no cenário internacional e o lugar que desejaria ocupar.
Quando o assunto é a relação com os EUA, há consideração sobre os escândalos de espionagem e seus impactos, mas a opinião majoritária é a de que o país deve realizar esforços para estreitar laços. Quando se discute as relações Brasil-China o pragmatismo comercial prevalece: a opinião predominante preconiza que devemos estreitar laços, lembrando as oportunidades ainda não exploradas. Existe bastante descrença no futuro do Mercosul, e muitas críticas à uma real ou suposta ideologização por parte do Brasil, que teria retardado os processos e acordos do grupo para aguardar a indecisão argentina. Finalmente os artigos sobre os BRICS, mostram que existe bastante incerteza e ceticismo com o futuro do bloco. As posições dos colunistas do jornal apontam para um desejo de maior protagonismo internacional do país, em especial no que diz respeito ao posicionamento perante crises internacionais.
Há uma alternância entre opiniões neutras e desfavoráveis à relação Sul-Sul e aos percalços enfrentados pelo Mercosul e mesmo pelos BRICS, que teriam menos em comum do que se imagina. A opinião sobre a relação Norte-Sul, as opções Multilaterais e Universalistas é, sobretudo, favorável, quando o país deveria investir em mais acordos comerciais e maior abertura econômica, bem como incentivar suas multinacionais a se expandirem.
Resumo dos assuntos tratados nos artigos
A imprensa de opinião e as grandes linhas de ação internacional do Brasil
Os artigos, editorais e entrevistas de especialistas, embora muito críticos com relação à condução da política exterior, parecem concordar o que tem sido suas grandes linhas de atuação. A abertura para o exterior, que chamamos de globalismo; a busca da diversificação das relações com países situados em diversas partes do mundo, que denominamos universalismo; a opção pelo multilateralismo; a presença ativa na região por meio do MERCOSUL e da UNASUL; e relações mais próximas com os Estados Unidos são opções de longo curso da política externa, que contam com apoio significativo entre os principais órgãos de imprensa e seus colaboradores.
Orientações Gerais da Política Externa – Preferências da Imprensa
- Nacionalismo (1) 1.02%
- Globalismo (97) 98.98%
- Regionalismo (6) 5.31%
- Universalismo (107) 94.69%
- Unilateralismo (4) 4.26%
- Multilateralismo (90) 95.74%
- Unasul – Favorável (4) 66.67%
- Unsasul – Contrário (2) 33.33%
- Mercosul – Favorável (11) 26.93%
- Mercosul – Contrário (30) 73.17%
- EUA – Favorável (40) 88.89%
- EUA – Contrário (5) 11.11%
Sobre o projeto
Hoje, a imprensa escrita é, a um só tempo, arena e protagonista de um debate informado sobre a política exterior do país. Por esta razão, o CEBRAP decidiu acompanhar o que pensam e dizem sobre o tema os principais órgãos da imprensa escrita, como protagonistas, em seus editoriais, e como meio, nos artigos assinados por seus colaboradores permanentes e eventuais.