Boletim nº4 – primeiro quadrimestre de 2015

A IMPRENSA E A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO ROUSSEFF

É baixa a proporção de formadores de opinião que apoiou publicamente a política externa do governo de Dilma Rousseff no primeiro quadrimestre do ano. Mas o percentual dos que o fizeram variou segundo os diferentes veículos.

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CEBRAP indica:

%

de artigos favoráveis
à Política Externa.

Confira abaixo a posição frente à política externa de articulistas e editorialistas de diferentes jornais:

  • Favoráveis 7.1% 7.1%
  • Neutros 28.6% 28.6%
  • Contrários 64.3% 64.3%

por Meilian Higa Lee

Confira a análise do veículo do jornal O Globo

A apreciação da política externa feita pelo jornal O Globo teve tom predominantemente crítico. Foram publicados 42 artigos — 13 editoriais e 14 artigos de opinião — contrários ao desempenho internacional do Brasil. Dentre os assuntos abordados, destacam-se: a especulação sobre a mudança na chancelaria brasileira; a hesitação do Brasil em relação à crise na Venezuela; a atuação brasileira na VII Cúpula das Américas e a passividade abrasileira frente a assinatura de acordos entre Argentina e China fora do Mercosul. A nomeação de Mauro Vieira como ministro das relações exteriores foi bem recebida pelo jornal, que interpretou o fato como reconhecimento pelo governo de que a política externa precisava mudar de rumo. Entretanto, articulistas e editorialista consideraram que o Itamaraty permaneceu com baixo perfil de atuação e desprestigiado pela Presidência da República.

Aumentaram as críticas com relação ao que se considera omissão diante da crescente repressão às oposições na Venezuela, atestada tanto pelo silêncio do Brasil , quanto de organismos internacionais como a Unasul, a OEA e o Mercosul. A cláusula democrática do Mercosul, que afastou o Paraguai, foi constantemente evocada. De outra parte, a necessidade de o Brasil se desvincular das amarras comerciais do Mercosul em crise foi reiterada. Os acordos entre China e Argentina, que já infringem outras normas do bloco, são vistos como uma ameaça ao espaço de mercado dos produtos manufaturados brasileiros. A Cúpula das Américas foi considerada uma oportunidade perdida de acordo com os articulistas, pois o Brasil, ao não portar-se como líder regional, permitiu que a retórica anti-imperialista da Venezuela, apoiada pelos seus parceiros ideológicos, suprimisse a chance de maior integração continental. A perda de credibilidade do Brasil, no plano internacional, é diagnóstico compartilhado pelos que escrevem no jornal.

Ela é percebida como fator limitante e redutor do protagonismo brasileiro. Dívidas com a ONU, a não defesa dos valores democráticos e a polarização política interna, abalariam o prestígio brasileiro no cenário internacional. A diplomacia presidencial foi duramente criticada, por mostrar cumplicidade com governos considerados ditatoriais. No plano da política comercial, o jornal O Globo e seus articulistas colaboradores demonstram preferência pelos acordos bilaterais, principalmente com Estados Unidos e União Europeia. Há também apoio aos arranjos multilaterais e plurilaterais, embora manifestem uma postura crítica aos acordos de viés regionalista e/ou vinculados à política sul-sul.

  • Favoráveis 24.4% 24.4%
  • Neutros 17.8% 17.8%
  • Contrários 57.8% 57.8%

por Camila Schipper

Confira a análise do veículo do jornal Estadão

A opinião sobre a política externa brasileira foi crítica na maior parte dos artigos e editoriais que tratam do assunto no jornal Estado de São Paulo durante o primeiro quadrimestre de 2015. Dentre os 45 artigos e editoriais analisados, 26 foram contrários à presente atuação internacional do país. Em relação ao ano anterior, há uma continuidade da temática com ênfase nos acordos comerciais bilaterais e plurilaterais juntamente com o aprofundamento das relações com países desenvolvidos. Além disso, defende-se o protagonismo do país em 33 artigos e editoriais, alinhado à defesa de reformas no plano internacional.

A defesa às relações norte-sul se deve a uma postura inclinada à maior aproximação do país com os EUA, fortalecida pelo reatamento das relações de Washington com Havana. No plano da política comercial internacional, é forte e recorrente a defesa de acordos bilaterais, frente aos pronunciamentos favoráveis da nova equipe econômica do governo (Armando Monteiro, no MDIC e Joaquim Levy, no Ministério da Fazenda). Enquanto que, no âmbito regional, os acordos plurilaterais também são defendidos visando o aprofundamento das relações com México, Colômbia, Chile e Peru. Em contraponto, prevalece uma postura crítica às relações entre Brasil e Argentina, vistas como ideologizadas. Outro assunto frequente é a diplomacia presidencial do governo Dilma e o papel do Itamaraty.

O pronunciamento oficial de repúdio à decisão da Indonésia de condenar à morte um cidadão brasileiro por tráfico internacional de drogas, foi visto como uma atitude precipitada do governo e um desrespeito aos instrumentos diplomáticos existentes. Por outro lado, a posse do novo ministro das Relações Exteriores teve uma repercussão positive, ao pressagiar possível retomada do papel do Itamaraty na condução da política externa do país. Os artigos e editoriais publicados no primeiro quadrimestre revelaram opinião expressivamente favorável ao protagonismo internacional do país, apesar de crítica à política externa do governo Dilma. Para tanto, defenderam o aprofundamento das relações com países desenvolvidos e a utilização de mecanismos plurilaterais com países da região, enfatizando os alinhamentos comerciais, tendo em conta que o setor externo seria peça-chave para a recuperação econômica.

  • Favoráveis 57.9% 57.9%
  • Neutros 21.1% 21.1%
  • Contrários 21.1% 21.1%

por Camila Schipper

Confira a análise do veículo do valor econômico

Articulistas e editorialistas do Jornal Valor Econômico foram, em sua maioria, favoráveis à política externa do governo atual durante o primeiro quadrimestre de 2015. É importante ressaltar que, dentre os 19 artigos e editoriais, 14 manifestaram uma posição favorável às relações norte-sul e 17 apoiaram a celebração de acordos bilaterais. Cabe salientar, contudo que há predominância de assuntos comerciais e que a maior parte dos artigos é de um mesmo colunista.

Os pronunciamentos do governo e seus encontros com empresários voltados em torno de políticas de estímulo à exportação são foram avaliados positivamente. Além disso, a possibilidade promissora de aprofundamento das relações com os EUA é considerada importante no âmbito das políticas comerciais do país. Vale ressaltar que 9 dentre os 19 artigos e editoriais tratam dessas relações, em razão do impacto do reatamento das relações entre Washington e Havana no contexto regional e das visitas de autoridades e empresários brasileiros aos EUA. Outro tema que ganhou importância foi a possível participação do Brasil no novo banco asiático criado pela China, considerada uma política de aproximação dos países.

Apesar da predominância de assuntos voltados a relações plurilaterais e bilaterais, também destaca-se uma opinião favorável à atuação do Brasil na OMC. Já as relações no âmbito do MERCOSUL não tiveram grande importância para editorialistas e colunistas. Deste modo, ao centrar-se em assuntos relacionados à política comercial no âmbito externo, a opinião expressa no jornal Valor Econômico foi em geral favorável ao plurilateralismo e ao aprofundamento das relações bilaterais do País, orientadas para o aprofundamento das relações norte-sul. No entanto, não se revelou expressamente contrária às políticas multilaterais e às relações sul-sul.

  • Favoráveis 47.1% 47.1%
  • Neutros 35.6% 35.6%
  • Contrários 47.1% 47.1%

por Dan Novachi

Confira a análise do veículo do jornal O Globo

O jornal Folha de S. Paulo publicou, ao longo do primeiro quadrimestre de 2015, 87 artigos de opinião e editoriais, dos quais 37 foram contrários à política externa brasileira praticada atualmente.

Dentre os principais assuntos abordados durante o período destacam-se: a necessidade de reinserção do Brasil nas cadeias globais de produção; o corte de recursos do Itamaraty; a relação Brasil – Indonésia; o estreitamento das relações com os EUA; as ações e declarações brasileiras relativas à crise econômica e política na Venezuela; e a participação do Brasil na definição do regime de mudança climática. Cortes de recursos e a evidente falta de prioridade conferida ao Itamaraty foram duramente criticados por articulistas e editoriais que enfatizaram a necessidade de uma mudança na política externa brasileira.

Nesse contexto, a inserção internacional do país, sobretudo econômica, foi fortemente defendida, tendo como principal vetor a aproximação comercial com os EUA. A necessidade de maior protagonismo internacional também ganhou bastante espaço nos artigos e editoriais, ora com pedidos de um maior engajamento do Brasil nos preparativos da COP 21, ora com exortações à atuação mais eficiente na resolução de crises e impasses globais. Cobrou-se posição mais imediata e firme do Brasil contra as violações de direitos humanos na Venezuela e participação mais ativa na recuperação econômica do país, por exemplo.

De forma geral, há grande apoio ao fortalecimento das relações Norte-Sul e as opiniões são majoritariamente favoráveis ao universalismo, em detrimento do regionalismo, e ao globalismo em oposição ao nacionalismo. O bilateralismo também apareceu em diversos artigos como algo bastante positivo para o Brasil, seguido pelo plurilateralismo, em menor escala.

A diplomacia presidencial foi avaliada como insuficiente, mas alguns elogios foram feitos às ações da presidente relativas à condenação e execução de brasileiros na Indonésia, com a ressalva de que essa defesa de direitos humanos poderia ter sido feita de forma menos ambígua em outras situações.

Resumo dos assuntos tratados nos artigos

A imprensa de opinião e as grandes linhas de ação internacional do Brasil

Os artigos, editorais e entrevistas de especialistas, embora muito críticos com relação à condução da política exterior, parecem concordar com o que tem sido suas grandes linhas de atuação. A abertura para o exterior, que chamamos de globalismo; a busca da diversificação das relações com países situados em diversas partes do mundo, que denominamos universalismo; a presença ativa na região por meio do MERCOSUL e da UNASUL; e relações mais próximas com os Estados Unidos são opções de longo curso da política externa, que contam com apoio significativo entre os principais órgãos de imprensa e seus colaboradores. Entretanto, em que pese a larga tradição de pertencimento do país aos organismos multilaterais as opiniões são significativamente menos consensuais quando a opção pelo multilateralismo é confronta com a possibilidade de acordos e arranjos plurilaterais ou bilaterais.

Orientações Gerais da Política Externa – Preferências da Imprensa

  • Nacionalismo (2) 1.32% 1.32%
  • Globalismo (149) 98.68% 98.68%
  • Regionalismo (8) 5.37% 5.37%
  • Universalismo (141) 94.63% 94.63%
  • Unilateralismo (12) 10.08% 10.08%
  • Multilateralismo (47) 30.13% 30.13%
  • Unasul – Favorável (0) 0% 0%
  • Unsasul – Contrário (5) 100% 100%
  • Mercosul – Favorável (4) 16% 16%
  • Mercosul – Contrário (21) 84% 84%
  • EUA – Favorável (55) 96.49% 96.49%
  • EUA – Contrário (2) 3.51% 3.51%

Sobre o projeto

Hoje, a imprensa escrita é, a um só tempo, arena e protagonista de um debate informado sobre a política exterior do país. Por esta razão, o CEBRAP decidiu acompanhar o que pensam e dizem sobre o tema os principais órgãos da imprensa escrita, como protagonistas, em seus editoriais, e como meio, nos artigos assinados por seus colaboradores permanentes e eventuais.

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