Cebrap e Itaú Unibanco lançam livro com cinco estudos sobre mobilidade urbana e mudanças climáticas

Em tempos em que as mudanças climáticas são pauta urgente, torna-se cada vez mais incisivo que os impactos ambientais da mobilidade urbana sejam discutidos. Como a construção das cidades, ao longo da história, priorizaram a circulação de automóveis motorizados individuais, foram colocadas em segundo plano as preocupações com a sustentabilidade do planeta, bem como da saúde e bem-estar das pessoas.

O setor de transportes se destaca quando o assunto é mudanças climáticas, dado que deslocamento por carros é uma das causas que colaboram com a emissão de CO2 e outros gases poluentes, provocando um impacto negativo no meio ambiente. Tendo isso em vista, alguns atores, como as universidades, pesquisadores e a sociedade civil, passaram a se dedicar no fortalecimento do debate em função de uma mobilidade urbana mais sustentável.

Tal debate pressiona o poder público e os setores privados para que adotem a pauta na agenda, de modo a mobilizar recursos e ações, como a promoção da mobilidade ativa, a eletrificação de frotas de transporte público e privado, o compartilhamento de veículos, entre outras.

Mas a discussão envolve não somente uma definição pragmática e mesmo superficial, como, por exemplo, apontar qual combustível seria ideal para ser utilizado nesse contexto. Isso porque é fundamental considerar a estrutura social, cultural e política que permeia a mobilidade urbana. Em outras palavras, o estudo sobre mobilidade urbana e sustentabilidade abrange assuntos amplos e diversos.

Sendo assim, embora a eletrificação de frotas de ônibus seja uma possível solução com menos impactos negativos, cabe também pensar, por exemplo, em inovações do ponto de vista dos arranjos municipais de transporte coletivo, como novos modelos contratuais e licitatórios.

A reestruturação também precisa ser pensada no âmbito socioeconômico. Convém refletir e propor medidas também acerca das desigualdades sociais na mobilidade urbana, como o racismo ambiental e no deslocamento pela cidade, além das condições de trabalho daqueles que trabalham com o trânsito de pessoas ou cargas.

Cabe lembrar que a mobilidade ativa, por meio do uso das bicicletas e da caminhada, é a receita mais antiga para uma mobilidade mais sustentável. Além de ser mais amigável com o planeta, ela promove benefícios individuais e coletivos na saúde, na economia e no deslocamento mais fluido. Trata-se de impactos positivos já conhecidos que a fazem ser central na discussão, ao lado das inovações tecnológicas e sociais que apostam na sustentabilidade.

São por estas razões que o Cebrap e o Itaú Unibanco se uniram para a realização da sexta edição do livro “Desafio”, agora com o enfoque na mobilidade urbana e mudanças climáticas. O projeto “Desafio Itaú-Cebrap: mobilidade urbana e mudanças climáticas” seleciona cinco pesquisadores para a realização de pesquisas inéditas sobre a temática, após receberem capacitação e orientação de pesquisadores do Cebrap. O objetivo desta publicação é fortalecer o debate considerando a sustentabilidade do planeta do ponto de vista ambiental e social, visando a melhora da vida das pessoas.

O lançamento do livro será realizado no dia 7/7,  às 17h, e terá transmissão online em tempo real pelo Canal do Cebrap no YouTube. Será realizada uma apresentação de cada autor sobre suas pesquisas.

Confira quais são as cinco pesquisas presentes no livro:

Emissões de gases de efeito estufa de viagens por aplicativo no município de São Paulo e perspectivas para a eletrificação no setor 

O primeiro artigo deste livro é do cientista político Caetano Patta da Porciuncula e Barros (DCP/USP). O autor aborda a estimativa das emissões de gases do efeito estufa provenientes das viagens de transporte de passageiros por aplicativos na cidade de São Paulo, discutindo também perspectivas para a eletrificação desse setor. Além de uma revisão bibliográfica, Barros utiliza dados secundários e primários como estratégia metodológica para produzir suas estimativas. Um dos resultados mais significativos obtidos pelo autor indica que, em 2021, aproximadamente 10% das emissões de gases do efeito estufa dos automóveis na cidade de São Paulo são atribuíveis aos serviços de transporte privado de passageiros por aplicativos.

O papel da integração entre ônibus e bicicleta na mobilidade urbana: o caso de Vila Velha e Vitória (ES) 

O segundo artigo é da geógrafa Laís Barbiero (UFSC). A autora aborda o papel da integração entre ônibus e bicicleta por meio de um estudo de caso nas cidades de Vila Velha e Vitória, localizadas no Espírito Santo. Concentra-se na temática da intermodalidade, destacando a importância de promover mecanismos que melhorem a integração entre diferentes modos de transporte, a fim de otimizar a capacidade do complexo sistema de mobilidade urbana de uma cidade. Sua metodologia inclui a análise de dados secundários e a coleta de dados primários por meio de entrevistas em profundidade com atores-chave no campo. Barbiero conclui que, embora existam estruturas relevantes para viabilizar essa integração, como bicicletários, sistemas de compartilhamento de bicicletas e uma linha de ônibus exclusiva para ciclistas, tais políticas ainda não estão configuradas de maneira ideal e tendem a ser frágeis como políticas públicas, frequentemente ameaçadas por outros serviços ou interesses governamentais.

Ônibus elétricos na mobilidade urbana: as experiências de São Paulo e Cidade do México

O terceiro artigo é do cientista político Ivan Souza Vieira (CIDE). O autor apresenta uma análise comparativa do processo de eletrificação das frotas de ônibus em São Paulo e Cidade do México. Para sua pesquisa, Vieira realiza análise documental e entrevistas em profundidade com atores e instituições envolvidas nesse tema nas duas cidades. Ao utilizar o conceito de governança, discute como os arranjos políticos e econômicos locais desempenham um papel fundamental na determinação do sucesso ou fracasso desse processo. O autor conclui que compreender as idiossincrasias que moldam a estrutura governamental em cada cidade é essencial para analisar a eletrificação de suas frotas de ônibus.

Eletrificação de carroças: uma análise com base na experiência do projeto Carroças do Futuro 

O quarto artigo é da cientista social Jaqueline Galdino da Silva (UFABC). A autora discute sobre os catadores de materiais recicláveis, tema escasso em literatura e estudos tanto no Brasil quanto internacionalmente. Seu trabalho analisa o projeto Carroças do Futuro, que visa eletrificar as carroças, com o objetivo de melhorar as condições de trabalho dos envolvidos nessa atividade e aumentar a produtividade dos catadores, consequentemente melhorando a renda proveniente de seu trabalho. A pesquisa envolveu a observação do dia a dia de trabalho no campo, além de entrevistas em profundidade com os catadores e os organizadores da ONG “Pimp my Carroça”, responsável pelo projeto e base para a realização do estudo. Silva conclui que o projeto, com seu processo de construção participativo dentro da ONG, apesar de suas limitações, teve resultados significativos ao ampliar a discussão sobre as condições de trabalho, saúde física e mental, e autoestima dos catadores.

Racismo ambiental e mobilidade urbana na cidade do Rio De Janeiro: estudo de caso sobre a Perifaconnection

O artigo do livro é do sociólogo Huri Paz (USP). O autor apresenta um estudo de caso sobre a PerifaConnection, uma instituição sediada no Rio de Janeiro, abordando o tema do racismo ambiental e sua crescente relevância na agenda do terceiro setor, além de analisar os financiadores envolvidos nessa agenda. Paz estabelece uma conexão entre o racismo ambiental e a mobilidade urbana, um serviço público essencial para essa discussão, uma vez que pode ser uma das principais manifestações desse problema nas grandes cidades. Com base em fontes documentais e entrevistas em profundidade com atores-chave do campo, o autor observa a lacuna entre os debates acadêmicos e as ações do terceiro setor em relação ao racismo ambiental, concluindo que as contradições existentes nos discursos dos diferentes atores são um obstáculo para o desenvolvimento de ações efetivas e para o combate dessa questão.

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