Que tipo de encontros entre pessoas, desejos e ideias pode produzir um sonho? Como o potencial de organização coletiva dos conteúdos oníricos pode ajudar na construção de alternativas sociais e econômicas para lidar com o aquecimento do planeta, as mudanças extremas no clima e suas consequências?
Pensando nessas questões, o projeto Jacarandá – Sonhar em Rede aposta na criação de um acervo circulante composto por relatos de crianças e adultos que têm sonhado o mundo. A equipe composta por psicanalistas e pesquisadores de diferentes áreas vai recolher e compartilhar sonhos que as pessoas associam ao aquecimento do planeta e aos impactos concretos e subjetivos das mudanças extremas do clima.
O projeto nasceu como desdobramento de pesquisas sobre os impactos subjetivos das mudanças climáticas em iniciativa coordenada pela psicanalista e antropóloga Mariana Leal de Barros, pós-doutoranda pelo Cebrap Sustentabilidade com o projeto : “Juventudes e emergência do clima: coletividade, reparação e sustentação de desejo no ativismo socioambiental negro e indígena”.
A Jacarandá vai compartilhar em seus canais trechos e outros registros dos sonhos recebidos. A ideia é que essa partilha possa ajudar a criar novas redes de percepção e organização, redes que ofereçam sustentação aos assombros, mas também provoquem um exercício de criação imaginativa coletiva e também apontem possibilidades de organização social, política e comunitária.
O acervo também poderá ser trabalhado futuramente como base de outras pesquisas, além de registrar no tempo e com as próprias palavras dos sonhadores um retrato de produções inconscientes de uma época marcada por tantos impasses e pelo fortalecimento de lutas que articulem a problemática ambiental com reparação de desigualdades e violências às populações mais vulneráveis.
“Alguns diriam que não temos mais tempo, é o fim. Mas para quem o fim começou agora? Para quem estava confortável? A vida sem garantia de futuro, empobrecida e ameaçada já é vivida pela maior parte da população mundial há muito tempo. De fato, são muitas lutas necessárias, mal sabemos por onde começar. Mas o perigo é que quando os desafios parecem grandes demais, como é o caso do aquecimento do planeta, que intensifica nossos maiores problemas, há o risco de sermos tragados pelo desespero e pela resignação. Já circulam sem estranhamento palavras como eco-ansiedade ou depressão climática, mas essas não são patologias que devem ser tratadas no plano do indivíduo. Ao criar essa rede, a gente faz referência aos laços sociais fundamentais para um enfrentamento que não se dá sozinho, é necessariamente coletivo. Os sonhos já recebidos mostram que há muito medo, assombro e ansiedade, como é comum quando vivemos situações traumáticas, mas há também conteúdos inusitados, aberturas que irrompem, e gostaríamos de dar ouvidos e atenção a isso” (Mariana Leal de Barros)
Por isso, a equipe reforça que não há nenhuma restrição no sentido do conteúdo sonhado: podem ser sonhos angustiados, amedrontados, mas também que tragam imaginações sobre novas possibilidades de habitar o mundo.
A Jacarandá – Sonhar em Rede já está recebendo sonhos. Para enviá-los, basta acessar o página em @jacaranda.sonharemrede e clicar no link da Bio. Podem participar pessoas de todas as idades (os sonhos de menores de idade são enviados pelos responsáveis), e os relatos podem ser feitos por escrito, desenhos ou outros registros artísticos. Os sonhadores terão sua identidade preservada e podem participar do projeto de forma anônima. O site encontra-se em construção e será disponibilizado em breve. Para saber mais, acesse aqui.