A IMPRENSA E A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO ROUSSEFF
Foram poucos os que vieram a público para apoiar a política externa do governo de Dilma Rousseff, nos primeiros quatro meses de 2014. Mas o porcentual dos que o fizeram variou segundo os diferentes veículos.
Nosso termômetro
CEBRAP indica:
%
de artigos favoráveis
à Política Externa.
Confira abaixo a posição frente à política externa de articulistas e editorialistas de diferentes jornais:
Confira a análise do veículo do jornal O Globo
A opinião do Jornal O Globo para este quadrimestre continuou acentuadamente crítica quanto à administração da política externa. Os 15 editoriais e os 27 artigos assinados trataram, em geral, das consequências da influência ideológica e partidária sobre a política externa do país.
O contexto do período eleitoral foi bastante considerado pelos artigos, principalmente, nos discursos da presidente em fóruns internacionais, os quais foram indicados como meios para se autopromover no cenário interno. Houve destaque também para um maior protagonismo brasileiro, especialmente, sobre os debates referentes à questão climática. Aponta-se o desinteresse da presidente Dilma Rousseff pela diplomacia como fator chave da redução da importância do Itamaraty e das demais relações internacionais comerciais e diplomáticas. Devido à influência ideológica, o Itamaraty estaria perdendo sua função como formulador de política externa deixando elevar as preferências do governo que confere prioridade a políticas sul-sul, como o atrelamento do Brasil ao Mercosul em crise, em detrimento de acordos bilaterais com os EUA e UE, presumidos como sendo mais favoráveis ao Brasil. Segundo o jornal, a diplomacia estaria voltada para o alinhamento automático com governos de esquerda e/ou antiamericanistas, como argumenta-se no caso do silêncio brasileiro diante da incursão russa à Ucrânia e da condenação aos ataques estadunidenses ao Estado Islâmico.
O discurso de Dilma Rousseff na 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi bastante criticado por ter defendido o diálogo com um grupo terrorista, além das críticas quanto ao uso da ONU como palanque eleitoral. O não comprometimento com a carta de desmatamento zero na Cúpula do Clima foi visto pelos articulistas como retrocesso do Brasil que deveria liderar a agenda climática. Constantemente o jornal critica o descrédito da voz brasileira no exterior culpando a ideologização da política externa. O discurso na ONU teria afastado mais ainda a possibilidade da normalização das relações com os EUA e as chances de pleitear uma vaga no Conselho de Segurança.
Os artigos são favoráveis ao multilateralismo e cobram participação mais ativa do Brasil nos temas internacionais.
Confira a análise do veículo do jornal Estadão
A opinião expressa sobre Política Externa no jornal Estado de São Paulo foi preponderantemente crítica durante o terceiro quadrimestre de 2014, com 32 editoriais e artigos dentre os 40 considerados.
Ao abranger o período eleitoral (19 de agosto a 24 de outubro) com 13 artigos e editoriais, a discussão sobre assuntos externos concentrou-se na reforma da política externa brasileira, vista como ideologizada e sem credibilidade internacional. O protagonismo internacional e as políticas de comércio exterior foram os principais temas presentes, destacando-se o comércio regional (MERCOSUL), as relações com os EUA e União Europeia. Neste último, predominaram as críticas à política Sul-Sul, enquanto se defendia o aprofundamento das relações bilaterais do país.
Os discursos da presidente Dilma na abertura da Assembleia Geral da ONU em setembro e na reunião dos BRICS, antes do encontro do G-20, foram vistos como instrumentalização da política externa para legitimação da política interna, resultando na marginalização da diplomacia profissional do Itamaraty. Diante da piora dos indicadores da economia nacional que impactaram negativamente na credibilidade internacional do país, a temática sobre comércio exterior é recorrente, notadamente em relação ao MERCOSUL – reforma institucional e relações com a Argentina. Além disso, o reatamento das relações entre EUA e Cuba esteve presente em artigos referentes ao seu impacto sobre as relações do Brasil com ambos os países. No período considerado, o resgate da projeção e relevância internacionais e a recuperação econômica frequentemente associaram-se à defesa do multilateralismo, com aumento das relações do país com países desenvolvidos, à revisão das relações com países vizinhos, à reforma do MERCOSUL e à maior atuação do país em fóruns internacionais.
Editorialistas e articulistas destacaram a necessidade de recuperação da credibilidade e da legitimidade internacional do país, com resgate da diplomacia tradicional do Itamaraty.
Confira a análise do veículo do valor econômico
Editoriais e artigos de opinião sobre politica externa no jornal Valor Econômico foram, em sua maioria, favoráveis ao governo ou neutros, durante o 3º quadrimestre de 2014. Nesse período, foram 19 editoriais e artigos, os quais versam principalmente sobre a politica comercial do país, destacando-se a necessidade de expansão das relações comerciais com países desenvolvidos, a reforma do MERCOSUL e o fim do protecionismo da economia brasileira.
A presença internacional do país no campo econômico é considerada deficiente, com a necessidade de integração da economia nacional nas cadeias globais de valor, o que inclui a redução das diversas proteções tarifárias da economia nacional. A disputa na OMC envolvendo o Brasil e a União Europeia sobre a proteção à indústria automobilística brasileira é recorrentemente abordada, enfatizando-se a importância da utilização dos fóruns multilaterais e de uma reforma da politica comercial do país. As relações entre Brasil e EUA também são abordadas por articulistas que consideram seu aprofundamento como uma das prioridades para a recuperação da economia nacional.
No âmbito regional, reforma institucional do MERCOSUL, de modo a impulsionar o comércio exterior do Brasil, é vista como importante e necessária. Em resumo, o jornal Valor Econômico enfatizou as políticas de cunho econômico para projetar internacionalmente o país, com destaque para a ação nos organismos multilaterais e aprofundamento nas relações com EUA.
Confira a análise do veículo do jornal O Globo
O jornal Folha de São Paulo publicou no terceiro quadrimestre do ano, nada menos do que 77 artigos de opinião sobre a política externa brasileira, alternando entre artigos desfavoráveis (34) e neutros (26). Os temas tratados foram numerosos:
1) diplomacia comercial, seus arranjos bilaterais e multilaterais (OMC) com críticas à queda de exportações e falta de integração nas cadeias globais de valor, bem como à baixa celebração de acordos;
2) a relação bilateral com os Estados Unidos, nos seus aspectos políticos, culturais e econômicos, com ênfase na importância de sua normalização;
3) a política externa de Dilma Rousseff, criticada repetidamente por se orientar pela ideologia mais do que pelos interesses nacionais;
4) as relações do Brasil com os países da América do Sul, com destaque para Argentina e Venezuela;
5) as diferentes propostas de política externa nos programas dos candidatos à Presidência da República, comparando Marina Silva, Aécio Neves e Dilma Rousseff, com frequentes comparações entre a ação externa dos presidentes Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso;
6) o discurso da presidente na Assembleia da ONU, com especial menção à proposta de como tratar o Estado Islâmico;
7) o fim do embargo dos EUA a Cuba e as relações brasileiras com a ilha, com menção à construção do porto de Mariel com recursos brasileiros;
8) a relação Brasil-China e suas perspectivas comerciais, com destaque para os nichos ainda não explorados naquele mercado;
9) a posição do Brasil com relação à Cúpula do Clima;
10) panoramas, balanços e projeções da política externa de Dilma, nos quais se destacam fortes críticas ao alegado desinteresse do governo pelo tema, à falta de tomada de posição em temas internacionais importantes e ao emparelhamento e falta de verbas do Itamaraty.
Importa ressaltar que, por se tratar de período eleitoral, muitos dos artigos discutiram propostas de política externa de forma alternativa ao do governo de então. Com a reeleição de Dilma Rousseff publicaram-se balanços críticos e exortações à mudança de direção. Existe no espaço editorial, que exprime a posição do jornal, bem como entre a maioria dos articulistas, opinião firme de que a presidenta atribui importância menor do que a devida aos assuntos externos, fato evidenciado pela diminuição de verbas do Itamaraty e a omissão diante de importantes contenciosos internacionais. Crítica é também a opinião sobre a política de comércio exterior, que se caracterizaria por estratégia focalizada nas negociações multilaterais na OMC e no MERCOSUL e pouco atenta às oportunidades abertas à celebração de acordos e à integração do país às cadeias globais de valor. O mesmo tom crítico aparece quando o tema são as relações Brasil-EUA Estas, na opinião dos articulistas e editorialistas, deveriam relevar as diferenças e apostar no estreitamento dos laços, especialmente os econômicos.
Quando o tema foi a relação Brasil-China destacou-se a questão dos nichos ainda não explorados daquele mercado e a ameaça, para os interesses brasileiros, dos acordos firmados entre a China e os países que são mercados para as exportações brasileiras. Finalmente, não foi bem recebido por colaboradores e editorialistas o discurso da presidenta na Assembleia da ONU, questionando os ataques à Líbia sem autorização do Conselho de Segurança, reiterando a posição pacifista brasileira de solução dos conflitos por meio do dialogo, inclusive em relação ao Estado Islâmico. Novamente, como ocorreu no último quadrimestre, grande parte dos artigos é favorável a maior protagonismo internacional do Brasil.
Resumo dos assuntos tratados nos artigos
A imprensa de opinião e as grandes linhas de ação internacional do Brasil
Os artigos, editorais e entrevistas de especialistas, embora muito críticos com relação à condução da política exterior, parecem concordar o que tem sido suas grandes linhas de atuação. A abertura para o exterior, que chamamos de globalismo; a busca da diversificação das relações com países situados em diversas partes do mundo, que denominamos universalismo; a opção pelo multilateralismo; a presença ativa na região por meio do MERCOSUL e da UNASUL; e relações mais próximas com os Estados Unidos são opções de longo curso da política externa, que contam com apoio significativo entre os principais órgãos de imprensa e seus colaboradores.
Orientações Gerais da Política Externa – Preferências da Imprensa
- Nacionalismo (2) 1.42%
- Globalismo (139) 98.58%
- Regionalismo (10) 7.3%
- Universalismo (127) 92.7%
- Unilateralismo (7) 5.88%
- Multilateralismo (112) 94.12%
- Unasul – Favorável (2) 66.67%
- Unsasul – Contrário (1) 33.33%
- Mercosul – Favorável (16) 42.11%
- Mercosul – Contrário (22) 57.89%
Sobre o projeto
Hoje, a imprensa escrita é, a um só tempo, arena e protagonista de um debate informado sobre a política exterior do país. Por esta razão, o CEBRAP decidiu acompanhar o que pensam e dizem sobre o tema os principais órgãos da imprensa escrita, como protagonistas, em seus editoriais, e como meio, nos artigos assinados por seus colaboradores permanentes e eventuais.