O Intergovernmental Committee for the Protection and Promotion of the Diversity of Cultural Expressions da Unesco aprovou o financiamento do projeto ‘Strengthening local cultural chains and networks in four brazilian mid sized cultural poles’. Único brasileiro aprovado entre os 7 escolhidos pelo edital, o proposto pelo Cebrap tem como objetivos diretos mapear e diagnosticar as demandas das cadeias de produção cultural locais e desenvolver um programa de capacitação e formação de atores culturais em 4 cidades brasileiras, localizadas em 4 macrorregiões diferentes. São elas: Macapá, no Estado do Amapá [Região Norte]; Embu da Artes, no Estado de São Paulo [Região Sudeste]; Toledo, no Estado do Paraná [Região Sul] e Serra Talhada, no Estado de Pernambuco [Região Nordeste].
Os objetivos mais amplos são o de fortalecer as cadeias de produção cultural locais de cada uma dessas regiões e ampliar/qualificar a participação da sociedade civil nas estruturas de governança da cultura, estimulando e melhorando a capacidade de diálogo entre os atores culturais da sociedade e os que estão ocupando cargos públicos – o que fortalece o sistema de governança da cultura de maneira mais geral.
Detalhando o projeto
O projeto, que tem previsão de início em março, envolve duas grandes linhas de atividades, a serem desenvolvidas ao longo de 18 meses. A primeira, um programa de formação e capacitação de atores culturais a ser realizado em cada uma das cidades, com o objetivo de ampliar e qualificar as possibilidades de atuação nas cadeias locais de produção cultural, bem como favorecer uma interlocução mais qualificada entre gestores públicos e atores da sociedade civil. Essa ação de formação compreende duas etapas: uma formação mais geral e aberta, com 32 horas de duração; e uma formação específica para 5 atores pré-selecionados para atuarem como multiplicadores locais, que receberão treinamento de 20 horas para atuarem na etapa seguinte, de mapeamento das demandas locais das cadeias de produção cultural. A segunda linha de atividades compreende o mapeamento e o diagnóstico das principais demandas dos grupos e agentes que atuam nas cadeias de produção cultural em cada cidade. Esse levantamento será realizado pela equipe proponente em parceria com os 5 multiplicadores formados em cada região, que receberão uma bolsa.
A proposta é que conhecimento produzido e compartilhado nessas duas grandes linhas de atividades possa ser mobilizado pelos agentes culturais [públicos e da sociedade civil] em seus projetos e intervenções futuros. Além disso, espera-se que a articulação entre esses agentes seja fortalecida, o que colabora, de modo geral, para uma participação mais qualificada na formulação de políticas culturais [fortalecendo, por exemplo, as diretrizes do Sistema Nacional de Cultura], bem como para o fortalecimento das cadeias de produção culturais locais, considerando as expressões culturais em toda a sua diversidade.
A escolha das cidades
As quatro cidades foram escolhidas pela diversidade de macrorregiões e de expressões culturais que representam: Embu das Artes é tradicionalmente conhecida pelas atividades artesanais, mas também faz parte da periferia da maior região metropolitana do país, e portanto apresenta uma produção forte no que hoje vem sendo conhecido como “cultura periférica”; Toledo combina representações como a de “cultura universitária” e “cultura rural”, além de estar próxima às fronteiras entre Brasil, Paraguai e Argentina, o que também traz uma característica de interculturalidade; Macapá mistura atributos de uma pequena capital [com suas culturas mais centrais e mais periféricas] a uma forte presença de culturas indígenas; e Serra Talhada traz a forte presença das culturas tradicionais e populares, que possuem mecanismos específicos de organização e transmissão e enfrentam questões também específicas [por exemplo, decorrentes da difusão de conteúdos mais massivos ou industriais, do crescimento da adesão a meios como a Internet, entre outros].
Outro critério de escolha das cidades foi a presença de equipamentos CEUs das Artes, do Ministério da Cultura. A ideia é que as atividades propostas tenham esses equipamentos como uma centralidade, ou um ponto de conexão empírico entre os atores sociais da sociedade civil e do governo. Com isso espera-se colaborar para o fortalecimento da interlocução dos CEUs com as comunidades culturais locais [o que é uma diretriz do próprio programa] e portanto reforçar sua característica de descentralização e adaptação aos contextos locais [considerando que o Brasil é um país bastante diverso e com dimensões continentais]. Para isso, pretende-se envolver a gestão dos equipamentos CEUs nas atividades de formação e no compartilhamento dos resultados do mapeamento e diagnóstico dos contextos locais, o que tende também a ampliar as informações e o conhecimento que os gestores possuem sobre as cadeias de produção cultural local – corroborando uma tradição de décadas que o Cebrap possui de gerar insumos para a formulação e o desenvolvimento de políticas públicas.
[Informações fornecidas pela equipe do projeto no Cebrap: Maria Carolina Vasconcelos Oliveira, Ana Paula do Val, Luísa Adib Dino e Danilo Jr de Oliveira]