Boletim nº10 – primeiro semestre de 2020

A IMPRENSA E A POLÍTICA EXTERNA NO GOVERNO BOLSONARO

A proporção de formadores de opinião que apoiou a política externa do governo Jair Bolsonaro, no primeiro semestre de 2020 foi próxima dos 15%. O percentual dos que o fizeram variou segundo os diferentes veículos.

Nosso termômetro CEBRAP indica:

%

de artigos favoráveis
à Política Externa*
*Frequência média de todos os veículos

%

de artigos favoráveis
à Política Externa**
** Frequência média de todos os veículos, retirando o Gazeta do Povo

Confira abaixo a posição frente à política externa de articulistas e editorialistas de diferentes jornais:

  • Favoráveis 0% 0%
  • Neutros 13% 13%
  • Contrários 87% 87%

por Caique Terenzzo

Confira a análise do veículo do jornal O Globo

No primeiro semestre de 2020, o jornal O Globo publicou 15 artigos sobre política externa, dos quais 13 críticos às iniciativas internacionais do governo e nenhum favorável.

O tema mais debatido foi a postura do Ministro das Relações Exteriores. Três artigos criticaram sua resposta a crise entre Estados Unidos e Irã no começo do ano que alinhou desnecessariamente o país aos Estados Unidos e acabou desconsiderando os interesses nacionais, além de contrariar os princípios de não-intervenção e solução pacífica de controvérsias, importantes para manutenção do prestígio da diplomacia brasileira. Outros dois trataram de descrevê-la como obscura e demasiadamente ideológica e questionaram sua eficácia na consecução dos interesses nacionais.

Dois artigos discutiram relações do Brasil com a China argumentaram como foram fragilizadas pelo respaldo dado pelo governo  a declarações do senador Eduardo Bolsonaro e do Ministro das Relações Exteriores, sobre a responsabilidade na China na propagação da Covid-19.

As relações com os Estados Unidos, objeto de dois artigos, foram colocadas em questão. De um lado, defendeu-se a necessidade do Brasil de assumir seus interesses frente a guerra comercial de China e Estados Unidos e, de outro, criticou-se o alinhamento brasileiro ao presidente Donald Trump.

A questão ambiental, o protagonismo internacional do Brasil, as Relações com a Argentina, as relações com Oriente Médio, o Comércio externo e o Mercosul foram tema um artigo cada, e apenas um deles em tom neutro.

Em síntese, O Globo reduziu significativamente o volume de artigos publicados sobre política externa, mas se manteve crítico ao governo.

  • Favoráveis 13% 13%
  • Neutros 15% 15%
  • Contrários 72% 72%

por Cicley Dias do Sacramento

Confira a análise do veículo do jornal Estadão

No Jornal Estado de S. Paulo, destacam-se 47 artigos e editoriais publicados, 34 dos quais contra a política externa do governo, 6 a favoráveis e sete neutros. Os assuntos mais discutidos são as relações com a China (14 artigos), com os Estados Unidos (5 artigos) e Venezuela (4 artigos), além da questão ambiental (4 artigos) e da discussão da orientação geral da ação externa do Brasil (4 artigos).

Os artigos trataram de forma crítica manifestações do Chanceler e do senador Bolsonaro sobre a China, mostrando seu impacto negativo para os interesses comerciais brasileiros. com a China em que se percebe mais críticas ao governo.

Com relação aos Estados Unidos, os artigos publicados se dividem entre posições críticas e favoráveis. As críticas se referem à atual política de alinhamento do Brasil com os Estados Unidos (e do presidente Jair Bolsonaro a Donald Trump) e suas consequências (3 artigos) e posições favoráveis ao acordo de bélico assinado entre os países (2).

Outros temas em relação aos quais a ação do governo recebeu manifestações positivas incluem: o ingresso na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); Relações com a Venezuela, Comércio Exterior e questão ambiental – todos tratados uma única cez. 7 artigos expressam atitude neutra e tratam de assuntos variados, tais como o protagonismo internacional do Brasil (2 artigos) e também a relação com a China (2 artigos).

De maneira geral, editoriais e articulistas do jornal, foram mais críticos do que simpáticos à política externa do governo, desaprovando o estilo atual da diplomacia presidencial, bem como as ações do Ministro das Relações Exteriores. Além disso, defenderam um mais protagonismo internacional do país e sua participação em negociações comerciais bilaterais.

  • Favoráveis 9% 9%
  • Neutros 55% 55%
  • Contrários 36% 36%

por Juliana Santos e Paloma Morais

Confira a análise do veículo do valor econômico

No 1º semestre de 2020, o jornal Valor Econômico publicou 11 artigos e editoriais sobre a política externa brasileira. Eles abordaram a relação Brasil-China (4 artigos), relação com os Estados Unidos (3 artigos) e as políticas ambientais (2 artigos). Com um artigo a favor  e quatro desfavoráveis, o jornal se caracterizou por posição preponderantemente neutra frente a estratégia externa do governo.

No que tange às relações entre Brasil e China, enfatizou-se a importância da potência oriental como parceiro comercial do Brasil, sobretudo no setor agroexportador e energético. Os artigos buscaram deixar em evidência a dimensão da participação chinesa na economia brasileira e em como o abalo nas relações entre os dois países traria maiores prejuízos ao Brasil.

A atuação do Itamaraty foi negativamente avaliada por estar na contramão de princípios estabelecidos constitucionalmente. O Ministro das Relações Exteriores foi citado duas vezes em artigos sobre as relações diplomáticas com a China: uma vez de forma crítica e outra de maneira neutra.

O Presidente da República, por sua vez, foi criticado em todas os textos sobre sua atuação internacional (4 artigos). O alinhamento com os Estados Unidos foi a razão principal das críticas, seguida pela mudança da agenda de política externa, agora  pautada pela retórica trompista, vista como prejudicial às  relações diplomáticas com outras nações, sobretudo com a China durante a crise do coronavírus.

Em contrapartida, em pautas relacionadas ao comércio exterior, o jornal publicou artigos com avaliações positivas (5 vezes), ou neutras quando o assunto foi o comércio de bens de saúde pública durante a pandemia.

As relações com países europeus foram bem avaliadas nos artigos publicados – tanto  no que concerne às medidas para possível entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), quanto às oportunidades que se abrem para o comércio bilateral com a Inglaterra após a conclusão do Brexit.

Por fim, em referência às questões ambientais, a participação brasileira na Conferência da ONU sobre o Clima (COP-25) foi negativamente avaliada, dada nossa incapacidade de responder ao desafio daa redução das emissões de carbono.

Em suma, apesar da frequente neutralidade, artigos e editoriais veicularam críticas  à atuação presidencial, enquanto reiteravam adesão à uma concepção multilateralista, globalista e universalista no que diz respeito às relações comerciais.

  • Favoráveis 4% 4%
  • Neutros 15% 15%
  • Contrários 81% 81%

por Caique Terenzzo

Confira a análise do veículo do jornal Folha de S. Paulo

No 1º semestre de 2020, o jornal Folha de S. Paulo publicou 11 artigos e editoriais sobre a política externa brasileira. Eles abordaram a relação Brasil-China (4 artigos), relação com os Estados Unidos (3 artigos) e as políticas ambientais (2 artigos). Com um artigo a favor  e quatro desfavoráveis, o jornal se caracterizou por posição preponderantemente neutra frente a estratégia externa do governo.

No que tange às relações entre Brasil e China, enfatizou-se a importância da potência oriental como parceiro comercial do Brasil, sobretudo no setor agroexportador e energético. Os artigos buscaram deixar em evidência a dimensão da participação chinesa na economia brasileira e em como o abalo nas relações entre os dois países traria maiores prejuízos ao Brasil.

A atuação do Itamaraty foi negativamente avaliada por estar na contramão de princípios estabelecidos constitucionalmente. O Ministro das Relações Exteriores foi citado duas vezes em artigos sobre as relações diplomáticas com a China: uma vez de forma crítica e outra de maneira neutra.

O Presidente da República, por sua vez, foi criticado em todas os textos sobre sua atuação internacional (4 artigos). O alinhamento com os Estados Unidos foi a razão principal das críticas, seguida pela mudança da agenda de política externa, agora  pautada pela retórica trompista, vista como prejudicial às  relações diplomáticas com outras nações, sobretudo com a China durante a crise do coronavírus.

Em contrapartida, em pautas relacionadas ao comércio exterior, o jornal publicou artigos com avaliações positivas (5 vezes), ou neutras quando o assunto foi o comércio de bens de saúde pública durante a pandemia.

As relações com países europeus foram bem avaliadas nos artigos publicados – tanto  no que concerne às medidas para possível entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), quanto às oportunidades que se abrem para o comércio bilateral com a Inglaterra após a conclusão do Brexit.

Por fim, em referência às questões ambientais, a participação brasileira na Conferência da ONU sobre o Clima (COP-25) foi negativamente avaliada, dada nossa incapacidade de responder ao desafio daa redução das emissões de carbono.

Em suma, apesar da frequente neutralidade, artigos e editoriais veicularam críticas  à atuação presidencial, enquanto reiteravam adesão à uma concepção multilateralista, globalista e universalista no que diz respeito às relações comerciais.

  • Favoráveis 34% 34%
  • Neutros 53% 53%
  • Contrários 13% 13%

por Leonardo Derenze

Confira a análise do veículo do jornal Gazeta do Povo

Neste 1º semestre de 2020, a Gazeta do Povo publicou 38 artigos e editoriais sobre a política externa do Brasil. Assim como no período anterior, analisado em nosso último boletim, a Gazeta mantém-se como o único veículo cuja proporção de textos favoráveis à política externa do governo Bolsonaro é superior à proporção de contrários. Contudo, há significativas mudanças: de janeiro a julho de 2020, mais da metade de seus artigos e editoriais foram neutros (20 artigos), indicando certa parcimônia na avaliação da política externa, enquanto os textos contrários e favoráveis contaram com 5 e 13 artigos, respectivamente. Os assuntos mais discutidos foram as relações do Brasil com a China (27) e com os Estados Unidos (22), a Diplomacia Presidencial (14), Comércio Exterior (9), Questões Ambientais (8), além de temas gerais da política externa (14) e as relações com a Venezuela (6).

As poucas posições contrárias encontram-se em artigos de colunistas, referindo-se à posição brasileira frente à OMS no que tange às políticas de combate à pandemia da COVID-19, às relações do Brasil com os Estados Unidos, com a China e com Israel. Já os artigos e editoriais favoráveis ao governo se referiram às relações do Brasil com os Estados Unidos (7), além da política brasileira em relação à OCDE, Argentina, Uruguai, Venezuela e Irã – todos com 1 (um) texto.

Resumo dos assuntos tratados nos artigos

Assuntos tratados

Temas

Número Absoluto

%

Relações China 27 19,7
Relações EUA 22 16,1
Orientação Geral da PE 14 10,2
Questão Ambiental 8 5,8
Relações Venezuela 6 4,4
Inserção internacional 5 3,6
Ministro das relações exteriors 5 3,6
Relações Irã 4 2,9
COMEX 4 2,9
OCDE 4 2,9
5G 3 2,2
Relações Reino Unido 3 2,2
Relações Israel 3 2,2
Itamaraty 3 2,2
Covid-19 3 2,2
Davos 3 2,2
Diplomacia Presidencial 3 2,2
Relações Argentina 3 2,2
Mercosul 2 1,5
Relações Uruguai 2 1,5
Protagonismo internacional do Brasil 2 1,5
Outros* 8 6,0
Total (artigos) 137 100

* Assuntos com apenas um artigo publicado: Acordo União Europeia-Mercosul, Direitos Humanos, Eduardo embaixador, Fechamento de fronteiras, G20, OMS, Pragmatismo na política externa e Relações Índia.

 

Orientações Gerais da Política Externa – Preferências da Imprensa

Os artigos de opinião, editoriais e entrevistas de especialistas, muito críticos com relação à condução política exterior, parecem concordar com os princípios e valores que orientaram a política exterior do país até a posse do governo Bolsonaro. A abertura para o exterior, que chamamos de globalismo; a busca da diversificação das relações com países situados em diversas partes do mundo, que denominamos universalismo; a opção pelo multilateralismo, a presença ativa na região, e especial a participação no MERCOSUL; e relações mais próximas com os Estados Unidos e China. São todas opções de longo curso da política externa, que contam com apoio significativo entre os principais órgãos de imprensa e seus colaboradores.

Nacionalismo x Globalismo

  • Nacionalismo 6% 6%
  • Globalismo 94% 94%

A maioria dos artigos e editoriais publicados pelos órgãos de imprensa que acompanhamos assumem orientação favorável à globalização, com pouco mais de 90% dos artigos favoráveis ao globalismo e/ou críticos ao nacionalismo.

A maioria dos artigos e editoriais publicados pelos órgãos de imprensa que acompanhamos assumem postura favorável ao multilateralismo nas relações internacionais do Brasil.

A maioria dos artigos e editoriais publicados pelos órgãos de imprensa que acompanhamos são favoráveis ao universalismo e regionalismo na condução da política externa brasileira.

Relações Norte-Sul e Sul-Sul

Relação Norte-Sul

  • Contrário 10% 10%
  • Favorável 90% 90%

A maioria dos artigos e editoriais publicados pelos órgãos de imprensa que acompanhamos assumem postura favorável a relações Norte-Sul.

Relação Sul-Sul

  • Contrário 8% 8%
  • Favorável 92% 92%

A maioria dos artigos e editoriais publicados pelos órgãos de imprensa que acompanhamos assumem postura favorável a relações Sul-Sul.

Sobre o projeto

Hoje, a imprensa escrita é, a um só tempo, arena e protagonista de um debate informado sobre a política exterior do país. Por esta razão, o CEBRAP decidiu acompanhar o que pensam e dizem sobre o tema os principais órgãos da imprensa escrita, como protagonistas, em seus editoriais, e como meio, nos artigos assinados por seus colaboradores permanentes e eventuais.

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