O terceiro dia das Jornadas Sesc Cebrap

A terceira mesa das Jornadas Sesc Cebrap: Pesquisa e Futuro, mais um evento comemorativo da série #Cebrap50anos, aconteceu na quinta, 29 de agosto. Com mediação da socióloga Ana Paula Galdeano, o debate girou em torno de “Drogas e crime” e trouxe o antropólogo e editor da revista Platô – Drogas e Política Mauricio Fiore e o sociólogo Gabriel Feltran (também integrante do Centro de Estudos da Metrópole e professor da UFSCar). O evento aconteceu no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

A primeira apresentação foi de Mauricio Fiore que já elencou alguns pressupostos pra discussão: “Antes de qualquer coisa, drogas e crime não formam um par político e/ou analítico obrigatório. Outra coisa é que a política de drogas é como o Estado lida com o fenômeno das drogas. E não tem como debater política de drogas sem tratar de política”. Depois, Fiore ressaltou a distância entre as pesquisas feitas sobre o assunto nos Estados Unidos e Europa e aqui no Brasil. “A Europa e os EUA tem muitos estudos históricos sobre uso de drogas e o Brasil só começou a fazer isso recentemente e mesmo assim correndo riscos de censura e negação da ciência como tem acontecido nos últimos tempos”, refletiu. Sobre pesquisas fez um apontamento metodológico e disse que “é importante ter diversas categorias de avaliação em pesquisas. Por exemplo, no caso de Portugal, a primeira avaliação foi muito positiva. Depois, grupos proibicionistas avaliaram mal. Até que depois, estudos mais densos viram que a política de drogas de Portugal tem pontos positivos nos sistemas penal e de saúde e outros negativos. Resultados assim, mais equilibrados, são muito importantes”.

Já Gabriel Feltran, que em 2018 lançou o livro ‘Irmãos – Uma História do PCC’, mostrou um pouco de uma pesquisa que vem desenvolvendo sobre a trajetória de carros roubados e suas conexões com o crime e a violência. “Um dos motivos da gente ter escolhido carros roubados pra estudar é porque existem muitos dados disponíveis, principalmente por causa das seguradoras”, disse. “500 mil carros são roubados ou furtados por ano no Brasil em média e 50% dos casos é não violento. Mas em São Paulo, o Polícia Militar mata mais justamente em casos de roubo de carro e moto. Diferente do Rio de Janeiro que a maior letalidade da polícia se dá em casos de ocupação de morros”.

Feltran seguiu traçando o perfil dos jovens criminosos que efetuam os roubos de carros e as inúmeras possíveis trajetórias de um carro roubado. “Roubo de carros também é uma grande fábrica de desigualdades porque o jovem que rouba pode ganhar de 400 a 1000 reais – e são justamente esses jovens que morrem em confrontos com a polícia -, e esse carro for pra leilões legais, por exemplo, o leiloeiro ganha dez vezes mais. (…) Mercados ilegais existem em todo lugar no mundo, mas no Brasil isso está muito ligado a violência e morte, e isso tem tudo a ver com a política de segurança que o Estado optou: prender ou matar o pequeno criminoso, falta de inteligência investigativa, etc”. Ouça abaixo a íntegra, em áudio, do debate.

As Jornadas Sesc Cebrap seguem nos dias 12, 19 e 26 de setembro. Confira a programação completa AQUI e leia também um pouco do que aconteceu na primeira mesa e na segunda mesa.

Leia Também

Em novembro foram realizados os últimos seminários “Cartas na Mesa” do projeto “Who Cares?” de 2023. Os encontros, que se estenderam ao longo do ano, reuniram especialistas e pesquisadores para discutir o futuro do cuidado em um contexto pós pandêmico. As gravações completas de todos os encontros estão disponíveis para o público no Canal do […]