Pobreza, desigualdade e sociabilidade

Nesta frente, levando em conta resultados anteriores do projeto do CEM, aprofundamos as proposições teóricas a respeito dos mecanismos de amenização da pobreza e de reprodução da desigualdade social relacionados com a sociabilidade urbana, bem como seus efeitos no acesso das pessoas a recursos materiais e simbólicos.

Com apoio na comparação de estudos etnográficos realizados em contextos de “situações periféricas”, três linhas de investigação estão sendo desenvolvidas:

(a) a violência simbólica, compreendida como uma gramática social que classifica hierarquicamente tanto localidades no interior do espaço urbano quanto setores da população, por meio de estigmas e status a eles conectados;

(b) a vulnerabilidade política devida à relação entre essas populações e o Estado (aqui tomado como um continuum de políticas que tanto podem ser inclusivas quanto induzir à segregação), sob inspiração de Castel;

(c) a qualidade dos laços sociais formais e informais (religião, família, comunidade, associações), que podem facilitar ou limitar o acesso aos recursos materiais.

Os pesquisadores envolvidos neste projeto têm como objetivo não a produção exaustiva de novos dados, mas monitorar campos etnográficos e introduzir uma dimensão longitudinal, com vistas a explorar os efeitos desses mecanismos ao longo do tempo.

A principal metodologia empregada é a comparação de trabalhos de campo etnográficos realizados em três diferentes contextos de pobreza. Parte desse material já foi coletada em fases anteriores, mas sua análise, enquanto material para responder à questão sobre seus impactos sobre a desigualdade social, não foi ainda suficientemente explorada. Dessa forma, todas as localidades serão analisadas em relação às suas respectivas “centralidades” e “situações periféricas”, no que diz respeito à produção de bens simbólicos e materiais. As “situações periféricas” são:

– Paraisópolis, em relação ao Morumbi, em São Paulo;

– Cidade Tiradentes, em relação ao Centro Expandido de São Paulo;

– Uma ocupação denominada “Bairro da Paz”, na cidade de Salvador, em relação aos condomínios privados em seus arredores.

Cada situação, considerada em uma perspectiva relacional, será comparada com as outras. O objetivo é entender os mecanismos comuns e cruzados que, ao mesmo tempo, suavizam a pobreza urbana e reproduzem a desigualdade social. É importante dizer que os surveys já aplicados em Paraisópolis, Cidade Tiradentes (ambos em São Paulo) e Bairro da Paz (em Salvador) – os quais foram concebidos com base na pesquisa etnográfica empreendida em fase anterior da pesquisa – serão uma referência para essa nova imersão no campo.

Anexos

Pesquisadores